Por Jânsen Leiros Jr.
Este
espaço nasce da inquietação e da esperança.
Inquietação
de quem já não encontra nas explicações prontas um abrigo para a fé; esperança
de que Deus ainda possa ser encontrado, ouvido e discernido… mesmo quando
parece oculto.
Vivemos
dias em que a revelação divina tem sido reduzida a fórmulas, sistemas e
fronteiras institucionais. Mas e se Deus não couber em nossos esquemas? E se o
Deus das Escrituras for também o Deus que age além delas, como um vento que
sopra onde quer?
Este
espaço é um convite à escuta. A escuta dos ecos do Sagrado que reverberam nas
civilizações, nas histórias, nos símbolos, nos mitos, nos textos e nos
encontros mundo afora.
Procuramos
por vestígios da revelação divina no mundo, não para substituir o que cremos —
mas para ampliar o que fomos ensinados a perceber.
Essa
busca nos convida a olhar além das fronteiras já traçadas. Há mapas ainda não
desenhados, pegadas apagadas na areia e luzes que dançam em sombras antigas.
Por isso, abrimos quatro trilhas — não para conter o Sagrado, mas para
suspeitar de Sua presença onde menos se espera. Talvez nelas encontremos ecos
de uma voz que nunca se calou.
Trilha
1 — Revelações nas Civilizações
Antes
mesmo de haver uma aliança com Abraão, o ser humano já erguia altares, contava
histórias de deuses e buscava, à sua maneira, o sentido da existência. Essa
trilha nos convida a olhar para as grandes civilizações da antiguidade — e
também para as pequenas culturas esquecidas — com os olhos de quem procura
vestígios do Sagrado. Os mitos, os ritos, as linguagens simbólicas e os valores
éticos revelam, por vezes, ecos de uma voz que não foi totalmente silenciada
pela queda.
Não
se trata de sincretismo nem de relativismo, mas da abertura que Paulo nos
ensina quando, em Atenas, reconhece que o “Deus desconhecido” já era cultuado,
ainda que anonimamente. Essa trilha quer explorar os rastros desse Deus — não
como confirmação de nossa teologia, mas como testemunho de que o Criador não
deixou de falar, mesmo quando não O ouvíamos com clareza.
Trilha
2 — Linhas da Palavra
Aqui,
voltamos à Escritura, mas com o olhar atento às expressões universais da
revelação. O Deus de Israel nunca foi um deus tribal — mesmo quando se revelou
em meio a um povo específico. Essa trilha examina os textos bíblicos que
expandem a presença e o agir divino para além das fronteiras étnicas e
religiosas. É o Deus que se apresenta a Nabucodonosor, que age em Ciro, que
responde a Naamã, que escuta Agar, que chama os magos do Oriente, e que estende
sua aliança até “os confins da terra”.
As
Escrituras são o fio condutor da revelação progressiva de Deus. Mas nelas há
linhas que escapam aos enquadramentos sistemáticos, abrindo horizontes para a
ação divina nas margens, nos estrangeiros, nos que aparentemente estavam “fora
da missão”. É aqui que veremos como a Palavra ilumina o mundo — inclusive
aquilo que julgávamos estar em sombras.
Trilha
3 — Vozes, Sombras e Ecos
Nem
sempre o divino se manifesta em discursos teológicos ou estruturas religiosas.
Às vezes, Ele sussurra. Outras vezes, apenas deixa uma sombra passar. Nessa
trilha, caminhamos pelas expressões mais sutis da transcendência — poesia,
arte, silêncio, memória, intuição, contradição. Deus como mistério que, por
amor, se deixa entrever nas entrelinhas da existência.
São
reflexões mais livres, meditativas e contemplativas, sem abrir mão da densidade
espiritual. Aqui cabem os espantos da alma, as contradições do tempo, os
brilhos inesperados no cotidiano. É uma trilha para os que aprenderam a ouvir
ecos, mesmo quando não há som — porque sabem que o vento sopra onde quer.
Trilha
4 — Cristo onde não O esperávamos
Esta
trilha é a mais ousada, mas também a mais bela. É o reconhecimento de que a
cruz projeta sua sombra para além da cristandade, e que a imagem do Cordeiro
pode surgir disfarçada em histórias, símbolos e figuras que não usamos no
altar, mas que carregam traços da Redenção.
Chamamos
de cristofanias veladas aquilo que brilha por contraste. São figuras
redentoras, experiências de entrega, amor sacrificial, justiça restauradora,
esperança que não perece — onde quer que apareçam. Essa trilha não visa
substituir o Cristo revelado nas Escrituras, mas ampliar nossa capacidade de
percebê-Lo, inclusive onde jamais pensamos procurá-Lo.
Este
é um espaço para caminharmos com reverência, com ousadia e com os olhos bem
abertos. Um lugar para escutar, observar, questionar, refletir — e, quem sabe,
ser tocado por Aquele que se revela sem jamais caber em nossos mapas. Que cada
trilha aqui aberta nos conduza, ainda que por caminhos inesperados, a encontros
verdadeiros com o Deus que se dá a conhecer — mas não se deixa domesticar.
Este
espaço é, portanto, uma travessia — minha, sua, nossa.
Não
escrevo daqui como quem chegou, mas como quem ainda caminha. Ouço ecos, sigo
pegadas, procuro sinais — entre ruínas, palavras, histórias e silêncios.
A
teologia, em vez de trazer acomodação pelo conhecimento alcançado, provoca-me
busca permanente pelo próximo estágio. Feliz e sobretudo prazerosa.
Creio
no Deus que fala. Mas também no Deus que surpreende, que escapa dos nossos sistemas,
e que insiste em aparecer onde menos esperamos.
Se
este espaço puder ser um lugar de encontro — com o Outro e com o divino — então
já terá cumprido sua missão.
Seja
bem-vindo ao caminho.