terça-feira, 15 de abril de 2025

Bem-vindo ao Eu Sou Eu

 Por Jânsen Leiros Jr. 

Este espaço nasce da inquietação e da esperança.

Inquietação de quem já não encontra nas explicações prontas um abrigo para a fé; esperança de que Deus ainda possa ser encontrado, ouvido e discernido… mesmo quando parece oculto.

Vivemos dias em que a revelação divina tem sido reduzida a fórmulas, sistemas e fronteiras institucionais. Mas e se Deus não couber em nossos esquemas? E se o Deus das Escrituras for também o Deus que age além delas, como um vento que sopra onde quer?

Este espaço é um convite à escuta. A escuta dos ecos do Sagrado que reverberam nas civilizações, nas histórias, nos símbolos, nos mitos, nos textos e nos encontros mundo afora.

Procuramos por vestígios da revelação divina no mundo, não para substituir o que cremos — mas para ampliar o que fomos ensinados a perceber.

Essa busca nos convida a olhar além das fronteiras já traçadas. Há mapas ainda não desenhados, pegadas apagadas na areia e luzes que dançam em sombras antigas. Por isso, abrimos quatro trilhas — não para conter o Sagrado, mas para suspeitar de Sua presença onde menos se espera. Talvez nelas encontremos ecos de uma voz que nunca se calou.

Trilha 1 — Revelações nas Civilizações

Antes mesmo de haver uma aliança com Abraão, o ser humano já erguia altares, contava histórias de deuses e buscava, à sua maneira, o sentido da existência. Essa trilha nos convida a olhar para as grandes civilizações da antiguidade — e também para as pequenas culturas esquecidas — com os olhos de quem procura vestígios do Sagrado. Os mitos, os ritos, as linguagens simbólicas e os valores éticos revelam, por vezes, ecos de uma voz que não foi totalmente silenciada pela queda.

Não se trata de sincretismo nem de relativismo, mas da abertura que Paulo nos ensina quando, em Atenas, reconhece que o “Deus desconhecido” já era cultuado, ainda que anonimamente. Essa trilha quer explorar os rastros desse Deus — não como confirmação de nossa teologia, mas como testemunho de que o Criador não deixou de falar, mesmo quando não O ouvíamos com clareza.

Trilha 2 — Linhas da Palavra

Aqui, voltamos à Escritura, mas com o olhar atento às expressões universais da revelação. O Deus de Israel nunca foi um deus tribal — mesmo quando se revelou em meio a um povo específico. Essa trilha examina os textos bíblicos que expandem a presença e o agir divino para além das fronteiras étnicas e religiosas. É o Deus que se apresenta a Nabucodonosor, que age em Ciro, que responde a Naamã, que escuta Agar, que chama os magos do Oriente, e que estende sua aliança até “os confins da terra”.

As Escrituras são o fio condutor da revelação progressiva de Deus. Mas nelas há linhas que escapam aos enquadramentos sistemáticos, abrindo horizontes para a ação divina nas margens, nos estrangeiros, nos que aparentemente estavam “fora da missão”. É aqui que veremos como a Palavra ilumina o mundo — inclusive aquilo que julgávamos estar em sombras.

Trilha 3 — Vozes, Sombras e Ecos

Nem sempre o divino se manifesta em discursos teológicos ou estruturas religiosas. Às vezes, Ele sussurra. Outras vezes, apenas deixa uma sombra passar. Nessa trilha, caminhamos pelas expressões mais sutis da transcendência — poesia, arte, silêncio, memória, intuição, contradição. Deus como mistério que, por amor, se deixa entrever nas entrelinhas da existência.

São reflexões mais livres, meditativas e contemplativas, sem abrir mão da densidade espiritual. Aqui cabem os espantos da alma, as contradições do tempo, os brilhos inesperados no cotidiano. É uma trilha para os que aprenderam a ouvir ecos, mesmo quando não há som — porque sabem que o vento sopra onde quer.

Trilha 4 — Cristo onde não O esperávamos

Esta trilha é a mais ousada, mas também a mais bela. É o reconhecimento de que a cruz projeta sua sombra para além da cristandade, e que a imagem do Cordeiro pode surgir disfarçada em histórias, símbolos e figuras que não usamos no altar, mas que carregam traços da Redenção.

Chamamos de cristofanias veladas aquilo que brilha por contraste. São figuras redentoras, experiências de entrega, amor sacrificial, justiça restauradora, esperança que não perece — onde quer que apareçam. Essa trilha não visa substituir o Cristo revelado nas Escrituras, mas ampliar nossa capacidade de percebê-Lo, inclusive onde jamais pensamos procurá-Lo.

Este é um espaço para caminharmos com reverência, com ousadia e com os olhos bem abertos. Um lugar para escutar, observar, questionar, refletir — e, quem sabe, ser tocado por Aquele que se revela sem jamais caber em nossos mapas. Que cada trilha aqui aberta nos conduza, ainda que por caminhos inesperados, a encontros verdadeiros com o Deus que se dá a conhecer — mas não se deixa domesticar.

Este espaço é, portanto, uma travessia — minha, sua, nossa.

Não escrevo daqui como quem chegou, mas como quem ainda caminha. Ouço ecos, sigo pegadas, procuro sinais — entre ruínas, palavras, histórias e silêncios.

A teologia, em vez de trazer acomodação pelo conhecimento alcançado, provoca-me busca permanente pelo próximo estágio. Feliz e sobretudo prazerosa.

Creio no Deus que fala. Mas também no Deus que surpreende, que escapa dos nossos sistemas, e que insiste em aparecer onde menos esperamos.

Se este espaço puder ser um lugar de encontro — com o Outro e com o divino — então já terá cumprido sua missão.

Seja bem-vindo ao caminho.